POR: BLOG DA FOLHA
O apoio do ‘centrão’ à candidatura presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB) traduz o “espírito do tempo” que move a classe política desde o início da crise de governabilidade vivenciada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Historicamente, a função de dar peso e solidez aos palanques nacionais sempre foi do PMDB. Mas, ao emplacar Michel Temer na Presidência, o partido deixou este lugar. E, como na política não existe vácuo, coube à aliança de legendas “pequenas”, que ganhou corpo com a eleição do deputado Eduardo Cunha (MDB) para presidente da Câmara, em 2015, assumir a condição de “fiel da balança”.
O centrão, hoje, congrega siglas como PP, DEM, PRB, SD e PHS. Mas, em sua origem, abrigava outras legendas, como PR, PSD, PSC, PTB, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB. Esta formação foi decisiva para o progressivo poder de Eduardo Cunha, seu grande patrocinador, e consequente derrocada do PT. Insatisfeito com a pouca atenção dispensada pela presidente Dilma, o grupo, que continha 220 deputados federais (43% do total), passou a prejudicar o governo e bancar as famosas “pautas bombas”, que aumentavam os gastos públicos, inflando a crise econômica.
Cada vez mais ciente de seu poder de barganha, o bloco manteve sua altivez e conseguiu grandes feitos no governo Michel Temer, como a liberação de volumosas emendas parlamentares, distribuição de cargos no governo e diversas outras benesses, em troca da garantia da governabilidade. Foi decisivo, inclusive, para a manutenção do emedebista no poder, no final de 2017. Na ocasião, ele liberou dezenas de cargos para deputados para conter uma ameaça de rebelião na votação da segunda denúncia na Câmara.
Agora, o bloco também pode fazer a diferença na eleição presidencial. Ao oficializar o apoio a Geraldo Alckmin, tirou o tucano da desvantagem, ao emprestar valiosos minutos para o guia eleitoral de televisão do candidato, que pode chegar a 43% do tempo total. O PT, se sair sozinho, por exemplo, deve contar com apenas 13%. A decisão ainda colocou a postulação de Ciro Gomes (PDT), que detém apenas 4% deste tempo de TV, em uma condição mais frágil. O pedetista também fez de tudo para atrair o centrão ao seu palanque. Mas, ao se mostrar “instável”, em razão de suas polêmicas declarações, perdeu este importante apoio e, agora, deve intensificar seu apelo a siglas como PSB e PCdoB, que se colocam no campo da centro-esquerda.
MDB X PSDB
Apesar de ter abdicado da condição de fiel da balança e ter o Henrique Meirelles como seu próprio candidato a presidente, o MDB ainda pode voltar ao seu lugar de origem. Com 12% do tempo de televisão, o partido pode fazer a diferença nesta eleição. Se a candidatura própria definhar, já que Meirelles ainda não conseguiu boa projeção nas pesquisa de opinião, a sigla deve optar por apoiar Alckmin, adicionando ainda mais força à chapa.
A aliança com o PSDB já foi tratada lá atrás, em momentos decisivos para o governo Temer. Na votação da primeira denúncia contra ele, em agosto do ano passado, um dos líderes do governo na época, o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), chegou a dizer que “o PSDB não chega ao poder sem o PMDB”. “O PMDB elegeu o FHC, elegeu a Dilma e o Lula. Ninguém chega ao poder sem o PMDB", afirmou, na ocasião.
Porém, os tucanos se dividiram. Na segunda votação, a maioria do partido se posicionou contra o presidente (23 a favor da investigação e 21 contra). Naquele momento, a relação entre as legendas se desgastou. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a defender o desembarque do governo. A saída do deputado Bruno Araújo (PSDB) do Ministério das Cidades teria sido o primeiro passo. Em novembro, Alckmin também disse que se fosse conduzido à presidência da sigla, fato que acabou se concretizando, iria romper com Temer.
Agora, resta saber o que restou desta relação conturbada. O fato é que se o MDB desistir de sua candidatura e emprestar seu tempo de TV ao PSDB, volta ao seu lugar de origem. Retoma a missão de garantir a governabilidade. E, pela sua importância quantitativa, adquire mais poder de barganha, ao ponto de tirar o protagonismo do próprio Centrão.
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